GREVE GERAL E UM CRAVO NA MÃO
Música: É o melhor trabalho do mundo, é a pior profissão do mundo, tem CAE, IVA, impostos, insegurança social, alegria desmedida, irmandade espontânea, chatices sem fim, cabos, máquinas, canetas, directas, marasmo sazonal, papelinhos por todo o lado, contas a descoberto, pagamentos atrasados, convites inesperados, canções de madrugada e ao acordar, insónias burras e criativas, magia, cordas, peles, teclas, sopros, lágrimas, cânticos no escuro, bastidores de nervos, preciosidades vintage, confirmações, desmarcações, ancas dançantes, assombrações em salas esgotadas, melodias, dissonâncias, silêncio, noise, punk fofo, lamechisse à bruta, isto dá muito trabalhinho, isto dá pouco dinheirinho, comunhões em salas quase vazias, tira dores, somos incríveis, somos pelintras, subsídio-coisinhos, não é filhos? Usurpadores, vivemos à conta do estado, mas é do estado das coisas, que isto não serve para nada, não se vê, mas olha até salva o mundo, a outra é gira, aquele até canta bem, e o maldizer, a fascinação e a puta da loucura que é não desistir da profissão? Vale tudo, vale, vale o descanso, a ausência, a tramóia, a felicidade, a tusa, a maravilha, deus e o diabo descem sobre ti e tens uma canção, quem é que explica isto? Num instante estamos todos a cantar e ninguém sabe como e o Amor quase que é palpável. Há abraços, finos, e prometemos, vou fazer isto para sempre. No dia a seguir dói-te tudo, dás no gengibre ou no guronsan, baldes de café, carradas de chocolate, a vida é curta, isto é lindo, bombas de gasolina, ovos mexidos e siga, pregos, vampirinhos de estúdio, corres o país de lés a lés, que se lixe a troika, vai correr tudo bem, free palestine, dormes amanhã. We are the world, precários flexíveis e inflexíveis, loucos, sonhadores, boémios, uns bêbados, vai mas é trabalhar das nove às cinco, não vais pra nova, tás velha, olha que isto não é permanente, olha que isto é intermitente, cigarras no meio das formigas, canta, canta, os males espanta, enquanto penas, enquanto levas, leva o cravo na mão, que isto vale a pena, grândola, vila morena, que o povo é quem mais ordena. Vale tudo para o bem e para o mal. Não me digam a mim que isto não é um trabalho e que não é o melhor de todos. Hoje, 11 de Dezembro de 2025, Greve Geral, também por todos os direitos que ainda não temos.

